"Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus."
1Co 10.31
Pensar em viver para a glória de Deus em todas as áreas da nossa vida, inclui também pensar sobre um ministério pastoral que glorifica a Deus, pois, aqueles que são chamados para esse ministério tão excelente, podem vivê-lo para si mesmo ou para outrem e menos para a glória de Deus.
Uma má compreensão acerca da vocação pastoral conduzirá o vocacionado a uma má condução do seu ministério. Um apelo proferido por John Piper aos pastores dos dias atuais, é que eles não deveriam fazer de seu ministério uma profissão. Para aqueles que olham para o ministério pastoral como uma grande oportunidade de emprego, estariam extremamente equivocados acerca da responsabilidade espiritual desse ministério tão sublime. O reflexo seria, quanto mais profissionais os pastores desejarem ser no ministério, mais morte espiritual deixaria em sua caminhada. Dave Harvey, diz que um dos diagnósticos a ser feito quanto ao chamado pastoral, é se o vocacionado é piedoso. Por conta desse e muitos outros equívocos, com respeito à vocação pastoral, se faz necessário entender melhor as implicações práticas da santificação na vida do vocacionado ao ministério.
Vocacionado para a glória de Deus.
O Breve Catecismo de Westminster em sua resposta quanto ao fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre. O glorificar está antes de gozá-lo porque é preciso primeiramente glorificá-lo. O alegrar-se em Deus deve ser fruto de um relacionamento correto com ele, assim, a primeira preocupação que o vocacionado deve ter é estar a serviço do Deus soberano com o propósito de glorificá-lo. Richard Baxter consoante ao ensino do catecismo, diz que o fim principal da supervisão pastoral deve estar intimamente ligado ao supremo propósito da vida. Esse propósito é agradar e glorificar a Deus.
O ministério pastoral sempre é moldado, formatado, dirigido pela adoração. O ministério será conformado pela adoração a Deus, pela adoração a si próprio ou para a maioria dos pastores, uma mistura intrigante de ambas, como diz Paul Tripp. Essa mistura perturbadora implica em agradar não somente a Deus mas, também a si próprio, obedecer não somente a Deus mas, aos desejos pecaminosos que são produzidos no coração. “Talvez não haja, uma tentação mais poderosa, sedutora e enganosa no ministério pastoral do que a glória própria”. A obra ministerial dever ser realizada de forma exclusiva para Deus e a edificação do seu povo. Conquanto a autonegação e abnegação são necessária a todo que professa a Cristo como Senhor, elas são “duplamente necessária ao ministro do evangelho”. Todo o empenho nos estudos, todo conhecimento adquirido e habilidade excelentes de exposição do texto sagrado podem tornar pecado de hipocrisia quando realizado para a glória própria. Uma das evidências da piedade no mistério pastoral é olhar e promover unicamente a glória de Deus. Por isso o vocacionado deve está atento a qualquer resíduo de glória própria em seu coração, pois refletirá diretamente em ministério. Alguns exemplos desse pecado serão destacados a partir de agora.
Os efeitos da glória própria
Sem dúvida, os efeitos da glória própria são danosos ao ministério. O vocacionado deve à luz da Palavra de Deus, diagnosticar esse pecado e redirecionar a sua vida e o seu ministério para render glória somente a Deus. Paul Tripp apresenta os resultados do ministério que é moldado pela glória própria. Alguns exemplos dos efeitos desse pecado serão destacados a partir de agora com base na lista apresentada por ele. O primeiro fruto da glória própria é que ela levará o ministro a ser muito auto-referente. De forma orgulhosa ele terá as melhores opiniões, as melhores histórias, pensam que sabem e entendem mais do que os outros, apagam as luzes que estão apontadas para a gloriosa graça de Deus em suas vidas e as redireciona para si mesmo. A glória própria levará também o ministro a ser mais orientado para a sua posição do que para a sua submissão. Isto é, ele será político quando deveria ser pastoral, solicitará serviço quando deveria servir, é induzido a pedir privilégios quando deveria abdicar de seus direitos. Finalmente, a glória própria também o levará a resistir à confrontação e à admissão dos seus pecados, fraquezas e falhas. O ministro que vive nesse pecado, não é receptivo a advertências amáveis, censuras, confrontação, questionamentos, críticas porque não sentem a necessidade disso. O orgulho é uma atitude de auto-suficiência e de independência para com Deus e de farisaísmo e superioridade para com o outro. Aquele que é vocacionado para o ministério pastoral deve começar detestando o seu próprio orgulho, cultivando um modelo cristológico de humildade que “deve fascinar o coração de todo pastor e formar o estilo de vida do seu ministério”.
Cultivando a humildade
O chamado por um viver santo guarda os pastores da glória própria e os estimulam em direção à humildade. Todo o ministério deve ser levado adiante com humilde senso de incapacidade. C. J. Mahaney incentiva aos pastores a desenvolverem uma lista de práticas para que cresçam em humildade. Ele destaca algumas práticas que podem servir de modelo para a avaliação pessoal de cada ministro. Dentre as quais são destacadas algumas neste trabalho: Estudar os atributos de Deus. Estudar focando especialmente nos atributos incomunicáveis, aqueles que não tem reflexo ou ilustração no homem ou em qualquer lugar na criação. Considerando, por exemplo, a infinitude de Deus, a sua onipresença, onipotência, olhar para Deus como um ser auto-existente, auto-suficiente, entre outros, tal contemplação certamente, irá enfraquecer o orgulho.
O ministro também deve estudar as doutrinas da graça, pois o ministro será lembrado que tudo o que ele tem e tudo que ele é começa em Deus, terminam em Deus e depende exclusivamente de Deus. As riquezas da doutrina da graça não deixarão qualquer espaço para autocongratulação. Por fim, estude sobre a doutrina do pecado. Compreender a profundidade e a depravação do pecado em sua própria vida, não permitirá que tenha uma percepção ensoberbecida de si mesmo, e a melhor forma de se preparar para o estudo do pecado, é estudar sobre a santidade de Deus. Dentre aqueles que admitem ser pecadores, o pastor humilde é o homem que toma alguma atitude a esse respeito, especialmente através da confissão de seu pecado e da busca pela correção de seus passos.
Referências
1.CARTER, James E.; TRULL, Joe E. Ética Ministerial: um guia para a formação de líderes cristãos. São Paulo: Vida Nova, 2010.
2.PIPER, John. IRMÃOS, NÓS NÃO SOMOS PROFICIONAIS: Um apelo aos pastores para ter um ministério radical. São Paulo: Shedd Publicações, 2009.
3.HARVEY, Dave, Eu Sou Chamado? A vocação para o ministério pastoral. São Paulo: Editora Fiel, 2013.
4.BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado. São Paulo: Editora PES, 2013.
5.TRIPP, Paul. Vocação Perigosa: Os tremendos desafios do ministério pastoral. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014.
6.ASCOL, Tom (Ed.). Amado Timóteo: uma coletânea de cartas ao pastor. São Paulo: Editora Fiel, 2011.
Comments