O texto de hoje tem como base a obra “Imago Dei: Antropologia Reformada.” do Doutor Paulo Anglada, obra publicada pela knox Publicações, sua primeira edição foi lançada em 2013. Ao pensar em antropologia, podemos começar dizendo que a busca constante pelo conhecimento do ser humano é uma jornada que atravessa tempos e culturas. Desde a filosofia antiga, incluindo pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles até as ciências contemporâneas, a compreensão da natureza humana se revela como um dos maiores desafios e fascínios da humanidade. Essa exploração abrange aspectos psicológicos, sociais, emocionais e existenciais, permitindo-nos entender não apenas o que nos torna únicos, mas também o que nos conecta. O pastor Paulo Anglada foi ministro presbiteriano, e tratou sobre esse tema em sua obra “Imago Dei” que é o terceiro volume de estudos sobre teologia histórica reformada, ele propôs estudar sobre o ser humano não numa perspectiva humanista, mas do ponto de vista de Deus que o formou, conforme revelado na Escritura.
É importante afirmar que a antropologia bíblica surge como uma abordagem que busca entender a natureza humana à luz das Escrituras. Assim como a busca pelo conhecimento do ser humano atravessa tempos e culturas, a perspectiva bíblica se fundamenta na revelação divina, explorando a relação entre o ser humano e Deus, seu criador. Compreendendo o homem como criado à imagem de Deus, a antropologia bíblica reformada destaca a dignidade, mas também a fragilidade da condição humana, marcada pelo pecado e pela necessidade de redenção.
A própria Escritura explica a origem do homem por meio da criação, o homem não é resultado de um processo de desenvolvimento, mas um ato imediato. Alem do mais, o relato bíblico indica uma superioridade e singularidade da raça humana “que é a coroa da criação”, o clímax da criação do Deus trino, e que a natureza humana é distinta da natureza animal, pois o homem é um ser pessoal e espiritual, cujo corpo foi formado da terra, e cuja alma foi comunicada diretamente por Deus o qual é o seu modelo, refletindo as suas características ontológicas, relacionados à sua essência, bem como, atributos morais e suas qualidades morais, relacionados à ética e ao comportamento. Isso implica que o homem, ao ser criado à imagem de Deus, carrega em si qualidades que espelham o Criador, como a capacidade de amar, criar e fazer escolhas éticas. Assim, a relação entre o homem e Deus é central para entender a identidade e a dignidade humana.
Quando partimos para o princípio de todas as coisas e especificamente a criação do homem, percebe-se o tipo de relacionamento que é estabelecido pelo criador em sua relação com o homem, essa relação é de compromisso, pacto, aliança. Segundo Anglada, a grande maioria dos teólogos reformados, explicam a passagem de Gn 2:8-9; 15-17 em termos de um pacto, denominado pacto de obras, reconhecem a representatividade de Adão e as verdades gerais aí ensinadas. Uma diferença fundamental entre o pacto de obras e o pacto que se inicia logo após a queda, denominado, pacto da graça é que, no primeiro, a obediência foi requerida do próprio homem; enquanto no segundo, a obediência de um mediador divino é aceita e imputada ao homem, por meio da fé salvadora. Alguns princípios gerais são revelados no pacto de obras como, princípios da vida e da morte, simbolizados na árvore da vida; princípios da provação e da tentação, simbolizados na arvore do conhecimento do bem e do mal e o princípio da representatividade, simbolizado em Adão. A vida física, espiritual e eterna dependem da nossa ligação com Deus, entretanto, o pecado separa o homem de Deus. A desobediência de Adão trouxe uma gravíssima consequência a ele e a toda humanidade, a morte, a separação de Deus. Para o homem livra-se deste estado de separação, somente a expiação de Cristo religa-o a Deus, Cristo poderia mudar a realidade de morte para a vida, fazendo com que homem que estava morte em seus delitos e pecados, agora em Cristo experimente comunhão com o criador.
Neste novo estado de comunhão com o criador por meio de Cristo, não nos encontramos mais debaixo do pacto de obras, pois jamais poderíamos obedecer integralmente a vontade de Deus. Estamos debaixo do pacto da graça: Cristo, obedeceu plenamente por nós a vontade do Pai e compete a nós obedecermos aos mandatos revelados a nós em Cristo para a nossa vida de fé e prática, tanto nas relações sociais (públicas) como familiares (particulares).
Diante da realidade do pecado, Anglada explica sobre a importância do pacto da redenção para a teologia e para vida cristã. Ele enfatiza que a nossa salvação é resultado da obra soberana das três pessoas da trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, e que devemos nos arrepender dos nossos pecados e confiar em Cristo como o suficiente salvador. Além do mais, a bíblia revela a existência de uma aliança firmada na eternidade entre o Pai, o Filho sendo o mediador e fiador dos eleitos de Deus, e que a implementação do pacto eterno da redenção na história não se trata de duas alianças, mas de uma mesma aliança. Essa é uma crença central na teologia reformada, teólogos como João Calvino enfatizam que a salvação é um ato divino, onde o Pai, o Filho e o Espírito Santo desempenham papéis fundamentais. O Pai planeja a redenção, o Filho, Jesus Cristo, executa a obra da salvação por meio de sua morte e ressurreição, e o Espírito Santo aplica essa salvação aos eleitos, capacitando-os a se arrepender e confiar em Cristo.
A aliança entre o Pai e o Filho é vista como um pacto eterno de redenção, onde Cristo atua como mediador e fiador, garantindo a salvação dos eleitos. Essa aliança não se fragmenta em diferentes pactos, mas é entendida como uma única aliança que se desdobra na história através de eventos como a aliança com Noé, Abraão e Moisés, culminando na obra de Cristo. Assim, a salvação é apresentada não apenas como um ato isolado, mas como parte de um plano divino contínuo e interconectado.
Quanto já tenha sido explicitado, que a salvação seja um ato de Deus em Cristo, um tema abordado por Anglada, que é frequentemente mal compreendida, é o livre arbítrio, em virtude da grande dificuldade em conciliar a doutrina da soberania absoluta de Deus, inclusive na obra da salvação, com a responsabilidade do homem como um ser pessoal, moralmente livre. Na perspectiva bíblica reformada, especialmente na tradição calvinista, onde afirma que, devido à queda, a natureza humana foi corrompida pelo pecado, afetando a capacidade do ser humano de escolher o bem de maneira plena, embora as pessoas possam tomar decisões em questões cotidianas, a verdadeira liberdade de escolher Deus e a salvação é impossível sem a graça divina. Essa graça irresistível, operada pelo Espírito Santo que o chama o pecador eficazmente, é o que permite que os eleitos se arrependam e creiam em Cristo. Portanto, a ênfase está na soberania de Deus na salvação: é Ele quem move os corações e concede a fé, garantindo que, no fim, a salvação seja um ato da graça e não da vontade humana, não por uma escolha humana. Assim, fica em destaque a dependência total do ser humano em relação à obra redentora de Deus, pois o homem está morto em seus delitos e pecados (Ef 2:1).
Neste esse aspecto, Anglada fala sobre a revelação bíblica acerca do homem no estado de graça. Este homem, por meio do Espírito de Deus é vocacionado graciosamente e eficazmente, o seu coração é transformado, arrependido volta-se com fé para o seu Senhor, que o justifica, recebe-o na família como filho por adoção, santifica-o e agora unido a Cristo, convicto persevera na salvação até o último dia de sua vida.
Unido a Cristo, o homem experimenta uma nova realidade, uma nova vida. A doutrina abordada por Anglada nesse ponto, é a doutrina da Imago Dei no homem em estado de graça, isto é, o que acontece com a imagem de Deus ontológica, moral e funcional no homem regenerado. Na perspectiva ontológica, a imagem de Deus é inerente à natureza humana, e a regeneração não a cria, mas a restaura a imagem manchada por causa do pecado. O homem regenerado recupera sua dignidade e valor como criatura à imagem de Deus. Entretanto, a restauração da Imago Dei, não é apenas ontológica. Moralmente, a regeneração transforma a moralidade do indivíduo, permitindo que ele reflita melhor os atributos morais de Deus, como amor, justiça e bondade. O Espírito Santo capacita o regenerado a viver de acordo com a vontade divina e a desenvolver um caráter mais semelhante ao de Cristo. Funcionalmente, o homem regenerado é chamado a cumprir seu propósito original, que inclui a administração da criação e o relacionamento com Deus. Essa função é revitalizada na regeneração, permitindo que a pessoa sirva a Deus e aos outros de maneira mais plena e eficaz.
A antropologia bíblica oferece uma compreensão profunda e rica sobre a natureza humana, mostrando não apenas quem somos, mas também nosso propósito e relação com o Deus criador. Ao explorar a imagem de Deus em nós, a dinâmica do pecado, a regeneração e a chamada à vida plena, esse tema nos convida a refletir sobre questões fundamentais da existência. Portanto, ao se aprofundar na antropologia bíblica, você descobrirá não apenas insights transformadores sobre si mesmo, mas também um caminho para viver de forma mais autêntica e significativa diante de Deus. Não perca a oportunidade de expandir sua compreensão e enriquecer sua jornada espiritual!
Se você gostaria de se aprofundar mais sobre o tema leia “Imago Dei: Antropologia Reformada.”.
Sugestões de Literaturas:
Imago Dei: Antropologia Reformada, Paulo Anglada. (Eu quero!)
Criados à imagem de Deus, Anthony Hoekema. (Eu quero!)
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